*Por Egberto Magno
O episódio novo na política maranhense é a
entrada do deputado estadual Raimundo Cutrim nas hostes oposicionistas.
O anúncio de seu desligamento do grupo político que, há quase 50 anos,
controla a ferro e a fogo o governo do estado, é algo de grande
simbolismo político e revela o grau de esgarçamento e decomposição da
oligarquia.
Desde
meninos, aprendemos que as vidas humana e animal são marcadas pelo
nascimento, desenvolvimento e morte. Estamos assistindo aos últimos
suspiros da oligarquia maranhense.
A
trajetória do grupo político do senador José Sarney começa paralelamente
ao surgimento de grupos oligárquicos em outros estados do nordeste
brasileiro, a exemplo do Ceará, Bahia e Piauí.
No
Ceará, o ciclo oligárquico teve início com Plácido Castelo, em 1966 e o
povo pôs fim em 1990; sob o mando de Antônio Carlos Magalhães, a Bahia
somente veio a romper com o mandonismo oligárquico em 2006 quando Jaques
Wagner, do PT, venceu as eleições ao governo daquele estado; entre as
décadas de 60 e 70, Petrônio Portela controlou a política piauiense,
tendo o seu grupo cindido em meados dos anos 80 e, em 2002, forças
políticas à esquerda chegaram ao poder no estado.
O
clã dos Sarneys é o mais duradouro do Brasil. Sua longevidade é
explicada pela adoção reiterada de artifícios e tramóias nada
republicanos, ou pelo menos republicanos da República Velha, onde o
vale-tudo era o critério que definia os arranjos políticos nos estados,
quando vigia a chamada “Política dos Governadores”.
“Vocacionado”
a uma atuação na cena política nacional, a preocupação de Sarney nunca
esteve voltada para resolver os problemas e gargalos que impedem que o
Maranhão se desenvolva econômica e socialmente. Antes, sua preocupação é
de manter, a todo custo, o poder no estado, para legitimar-se na esfera
federal e assim galgar postos de comando, como a presidência do Senado,
por exemplo.
Numa atitude
irresponsável e até mesmo criminosa, a oligarquia maranhense nunca
esteve interessada em superar os índices sociais que expressam as
degradantes condições em que vivem os homens e mulheres desta terra,
como atesta o IDH divulgado recentemente pelo IPEA.
Foi
vasto, até aqui, o estoque de artimanhas e tramóias utilizadas pela
oligarquia para encobrir as mazelas sociais e manter-se no poder:
chantagem, cooptação, fraudes de toda ordem, corrupção, mentira
midiática, e por ai vai. A despeito disso, em 2006 saíram derrotados das
urnas: as oposições elegeram Jackson Lago governador. Mas, numa manobra
com feições pirotécnicas, cassou o mandato daquele que obtivera
legitimamente o voto popular, e voltaram ao poder. Nas eleições
estaduais seguintes, novamente, recorreram à fraude, à cooptação ilegal
através de convênios firmados de última hora com prefeituras e
instituições, visando ganhar as eleições, impedindo, dessa forma, um
segundo turno para governador em 2010.
Mas
o estoque de artifícios, o saco de maldades, esgotou. O processo
judicial que pede a cassação da governadora Roseana está em vias de ser
julgado pelo TSE; sem nome à altura para disputar com Flávio Dino,
pré-candidato da oposição, a oligarquia vê seu pré-candidato “picolé de
chuchu” patinando; a situação é tão desesperadora que Luís Fernando fala
em “mudança” (a que ponto chegaram!), na vã tentativa de engabelar a
população.
Este é o dramático quadro
em que vive o clã Sarney. Como um prédio em ruínas, desaba diante da
torrencial chuva, no caso, chuva de democracia e esperança de mudança. É
o que explica a firme atitude do deputado estadual Raimundo Cutrim de
cair fora da barca furada. Seu rompimento com a oligarquia, antes de
representar uma resposta às tramas urdidas para desmoralizá-lo, como
denunciou o próprio deputado, representa uma nova rota, um grito de
liberdade de quem antever a queda fatal, mas a queda de uma oligarquia
que não tem mais nada a oferecer aos maranhenses, a não ser a condição
de estado com os piores indicadores sociais do Brasil.
*Egberto Magno é membro da Comissão Nacional de Organização do PCdoB