Vista panorâmica de Parnarama
Buscando sempre trazer aos leitores do Blog assuntos que digam respeito à cultura, história e vida política de nossa querida cidade de Matões, trago-lhes hoje uma reportagem que foi publicada no Jornal "CRUZEIRO" (Órgão das Paróquias de Caxias-MA), ano XXII, Domingo, 15 de julho de 1956, nº 902, que noticia sobre o então recém-emancipado município de Parnarama, desmembrado do antigo município de São José dos Matões, bem assim retrata, ainda que sob a tosca visão do líder do movimento separatista, senhor Lauro Barbosa, os motivos que levaram à mudança da sede municipal para as barrancas do rio Parnaíba, momento em que Matões sofreu um duro golpe político, transformando-se, da noite para o dia, da categoria de cidade em simples povoado.
Ei-la:
"Dados históricos
da fundação do antigo Município. Organização da planta da nova sede municipal,
seus fundadores e cooperadores. Motivos da mudança da sede do município de
Matões para o lugar Terra Nova, à margem do rio Parnaíba.
A história do município de
Parnarama, desligado hoje do antigo município de Matões, tem sua origem bem
remota, entre os anos de 1.800
a 1.805, quando o Governo colonial doou ao senhor Manuel
José de Assumpção, um dos pioneiros do desbravamento, aquelas terras, mediante
uma Carta de Sesmaria – a Data Atoleiro.
Em 1818, pelo cônego Manoel
Antônio Barroso, então vigário de Caxias, foi concedida uma licença ao Sr.
Assumpção para construir uma capela sob a invocação de Nossa Senhora da
Conceição, no sítio São José, de sua propriedade. O referido proprietário doou,
então, cerca de 900 (noventas) hectares de terra à padroeira da capela ora
fundada, que foi o início do núcleo de moradores, formando o povoado de São
José dos Matões, anos depois elevado à categoria de Vila pela Lei Provincial nº
7, de 29 de abril de 1835, suprimida e restaurada depois pela Lei nº 656, de 06
de julho de 1863.
Motivos da
mudança da sede municipal de Matões
O
motivo, ou melhor, os motivos que influíram bastante para que fosse pleiteada a
mudança da sede do antigo município de São José dos Matões, hoje Matões, para a
nova sede Parnarama, à margem esquerda do rio Parnaíba, foram diversos.
Entre
os quais, destacamos como mais exigentes – a escassez d’água para serventia
pública; depois a distância da sede municipal para a margem do Parnaíba (rio
navegável), dificultando o transporte fácil e mais barato, que muito
contribuiria para o desenvolvimento de seu comércio, de suas futuras
indústrias, fatores especiais que serviram de entrave ao seu progresso, que tem
permanecido até hoje estacionário, apesar da antiguidade de sua existência como
vila e, depois, cidade, que não tem razão de ser reconhecida, tamanho o seu atraso
decepcionante.
Entretanto,
a estes justos motivos permaneceram alheios, por muitos tempos, à visão
medíocre dos que alhures dirigiram os destinos do Município. E aquela
vergonhosa condição de atraso do Município e de sua sede, destituídos de todos
os melhoramentos necessários ao bem-estar de uma coletividade de rudimentar
civilização, impressionava e magoava os espíritos mais esclarecidos de alguns
de seus filhos, quando visitavam Matões.
E
o olhavam com justa piedade aquele estado de abandono, não vendo a
possibilidade de uma reurbanização da enfezada cidadezinha, ou de uma
recuperação demográfica e evolutiva, para aquela velha terra, anos a fio
emperrada, a um novo avanço de progresso construtivo para um futuro melhor, que
expressasse o amor à terra-berço, e demonstrasse o bom senso de homens de
mentalidade mais nobre e idealista que sentissem com mais realidade um amanhã
mais animador para os habitantes do antigo Município, com mais de um século de
fundação.
E
bem se expressou a respeito o sr. Lauro Barbosa, quando da inauguração do
Município Parnarama, disse:
<<Senhores, desde os primeiros dias de minha
existência sentia o mais profundo desejo de tornar-me uma partícula, sequer, de
um todo, capaz de promover o melhoramento de minha terra natal e, para não vos
mentir, confesso com tristeza, que muitas vezes mentia, negando ser filho de
Matões, tal o descrédito daquela terra de água clara e leve, e gente amiga e
boa>>.
E
esse sentimento de amor e pena de alguns de seus filhos que viam, com olhos
d’alma e dor no coração, a situação de aniquilamento do Município de Matões, e
o precário estacionamento de sua sede, fê-los unirem–se num só pensamento de
reação, numa só idéia de melhores aspirações, em bem da recuperação de seus
valores sociais e econômicos, manifestando assim mentalidade mais nova e
progressista.
E
o ideal justo e louvável de mudança da sede do Município de Matões para o sítio
Terra Nova se ajustou deveras ao bem
público de seus habitantes, que entreviam, na nova posição da sede municipal,
uma esperança de reabilitação para sua terra humilhada pelo desprezo dos que
tinham o dever de elevá-la a melhor conceito perante os outros municípios
maranhenses.
Dando
início ao movimento de renovação do Município, surgiram como pioneiros de sua
realização – o sr. Lauro Barbosa Ribeiro, que impôs a si a responsabilidade dos
árduos trabalhos da locação da futura sede municipal, e o sr. José Torres, que
muito contribuiu com a generosa oferta da área do terreno de sua propriedade
para edificação da nova cidade; e o Deputado Joel Barbosa que ofereceu a planta
de fundação da referida cidade, que tomou o nome de Parnarama, servindo hoje de
sede do Município do mesmo nome.
Os primeiros passos para a fundação da cidade de Parnarama
Em
1946, o sr. Lauro Barbosa, animado pelo otimista ideal de levar avante a
mudança da sede municipal de Matões, encaminhou ao sr. José Maria Barbosa,
então prefeito do Município (nota: irmão de Lauro Barbosa), uma representação
assinada por 250 (duzentas e cinqüenta) pessoas adultas e capazes, entre as
quais – comerciantes, agricultores e criadores residentes no território de
Matões, em que solicitavam a mudança da sede municipal para o lugar Terra Nova.
A
representação coletiva constava dos seguintes itens:
<<a) que considerando o afastamento
da sede municipal dos principais centros de produção e consumo, bem como outros
vários setores habitados, e ainda sua localização em terrenos áridos e
arenosos;
b) a sua distância do rio Parnaíba, via de
franco transporte, banhando cerca de 80 quilômetros de
terrenos férteis do Município;
c) que sendo quase impraticável a ligação
de Matões aos portos do referido rio por via carroçável em terrenos muitos
acidentados;
d) que as condições econômicas do Município
não lhe permitem a construção de rodagens para satisfazer a necessidade do
transporte;
e) que a Vila e a Cidade de Matões, na sua
vida passada e presente, nunca foi favorecida pelo progresso, tanto que,
contando cento e muitos anos de fundação, tem apenas a população de mil e
poucos habitantes;
f) que a cidade de Matões tem todos os seus
aspectos urbanos deploráveis, pelo irrisório número de casas, justificando-se
pela grande dificuldade de materiais para construção;
g) que a devastação das florestas
protetoras do principal manancial de aguada pública tem contribuído para sua
redução, e conseguinte escassez d’água potável para população;
h) que não tendo o Estado nem a
Municipalidade um só prédio onde funcionem as repartições públicas.
Em vista das circunstâncias acima expostas,
solicita a V. Excia. sua interferência junto aos poderes públicos competentes,
a fim de conseguir a mudança da sede municipal para a margem do rio Parnaíba,
visto que o comerciante José Torres Assunção, proprietário de terrenos no lugar
Terra Nova, propõe doar ao Município uma área suficiente para a localização da
nova sede municipal, conforme carta dirigida ao Sr. Lauro Barbosa Ribeiro, um
dos signatários desta Representação.
Matões,
15 de novembro de 1946.
Seguem-se duzentas e cinqüenta assinaturas>>.
Esta
representação, encaminhada e demorada em expedientes de natureza burocrática,
foi aceita pelos poderes competentes com relativo êxito.
E
como bem assinalou um dos oradores no ato solene da inauguração da nova cidade:
<Eis que surge agora Parnarama no
mundo das cidades brasileiras alegre e fragrante como uma flor do agreste, a
receber o orvalho abençoado de realizações futuras mas proveitosas>>.
E
desde aquele momento, o rio Parnaíba começou a oscular a face purpurina da
Cidade-Menina do Maranhão, que então começou a viver na luta dos seus
fundadores e bons cooperadores, tendo como propugnador de suas atividades
construtivas – os pioneiros de sua localização ajudados pela força unida e
forte dos operários, que foram as alavancas a levantar os primeiros edifícios
de Parnarama.
De
modo que, com as solenidades cívicas e entusiásticas manifestações de alegria, a 9 de abril de 1949, celebrou-se a
inauguração da cidade de Parnarama, na expansão viva dos sentimentos dos
que a idealizaram e na satisfação plena dos que viram concretizados os sonhos
de filhos amantes do progresso da terra natal.
E
deste marco inicial, começou a história da vida de Parnarama, que está sendo
construída pelos homens de hoje, para orgulho e exemplo das gerações futuras do
amanhã da civilização nacional.
E
aos presentes cumpre apenas dizer, como frisou o orador oficial no dia
inauguração de Parnarama:
<<Que vários episódios de heroísmo e
boa vontade de vencer, envolvem, em emaranhado enredo, admirável origem desta
cidade-criança que, sob o influxo de fecundas administrações, receberá a
garantia de sua prosperidade futura.
E nos dias difíceis do Brasil de hoje,
almejamos que a Providência divina aclare os espíritos atribulados e obscuros,
para que reine melhor compreensão entre os homens e paz nos lares e, assim, possamos
trabalhar com mais harmonia para felicidade da Pátria estremecida>>."
Coisas do passado...