Conforme a Bíblia, 'Livro da Lei' dos
cristãos, “aquele que vem da terra é da terra e fala da terra” (Evangelho de
São João, 3,31).
Pois bem. Na aprazível cidade de Santa de Luzia do Paruá, onde
o editor deste Blog viveu e conviveu por mais de cinco anos (2002-2007), em razão da labuta profissional, existia
um programa sertanejo em uma emissora local de rádio comunitária, chamado “Forró do Véi”, transmitido das 5h30 às
7h00 da matina, sob o comando do repentista e apresentador Antonio Alves
Ferreira, vulgo “Véi do Forró”, piauiense de Luzilândia, cidade ribeirinha do Parnaíba, porém, radicado há
muitos anos naquela região do Alto Turiaçu.
Segundo se dizia, referido
programa era o campeão de audiência no horário. Certo dia, sem ser exceção à
regra dos ouvintes, fui acordado com a declamação de um poema matuto que me
chamou a atenção, cuja autoria soube depois pertencer ao poeta e forrozeiro
cearense Amazan.
Sem nenhum colorido de
crítica ou juízo de desvalor a quem quer que seja, faço abaixo a singela
transcrição dos versos, com pequenas adaptações, que talvez apenas retrate a realidade
de nosso passado remoto (?), de origem feudal e estratificada em castas sociais de
poucos privilegiados do sistema:
“Hoje a nossa polícia tá muito fiscalizada
É por isso que cabra ruim deixou de levar mãozada.
Mas antigamente cabra metido a valente
Quando um soldado pegava, ficasse com foi-não-foi
Era cada tapa-oi que o mocotó entrançava.
Hoje polícia não pode mais dá cacete em ninguém
Cinegrafista amador em toda janela tem.
Mas antigamente existia polícia mau
E tinha uma polícia por nome de bacurau
Que só andava de ronda caçando cabra malandro
Pra dá um samba de pau.
Às quatro da madrugada o quartel passou o rádio
A bacurau foi chamada pra ir prender um rapaz
Que andava tirando a paz e o sono do pessoal
Com o som do carro ligado, cruzando sinal fechado
E dando cavalo de pau.
A bacurau fez fiapo para o local indicado
Não demorou e lá encontrou o rapaz embriagado.
Tinha descido do carro tava comprando cigarro
Que quando espiou de lado viu um camburão parando
E o soldado saltando já com o braço levantado.
E disse: - Teje
preso, seu safado. - Meninos vocês tão quente,
Eu sou documentado, vocês querem prender a gente.
Juninho não vai não. Eu vou é dizer a meu pai
O juiz Mané
Vicente.
Ah! Você é filho do juiz?
Oh! Juninho, vá desculpando
Você até essa hora na cidade biritando
Fazendo coisa demais, dando preocupação a seus pais
E nós lhe procurando?
Aí abraçaram Juninho, botaram o rapaz no carro
Logo no banco da frente, saíram conversando com ele
E foram entregar ao pai dele, o juiz Mané Vicente.
Quando chegaram na casa bateram na porta avexado
Quando saiu o juiz sem saber o resultado
Disseram: - este aqui é seu filho, tava ali
embriagado
Encontramos ele acolá e viemos aqui lhe entregar
Que aqui ele está guardado.
Muito obrigado, rapaziada, pela consideração
Oh! Que polícia educada. Gostei da iniciativa
Quando de mim precisar basta me procurar
Lá na liga esportiva.
Quer dizer que você é juiz de futebol?
Sim senhor. E o melhor do Estado.
Não fechou a boca, viu logo o resultado
Sacudiram os queixos do velho
Que ele ficou todo mijado
E deram um cascudo em Juninho
Que ele caiu de cu
trancado.
Pegaram os dois pelos fundos da calça
Ali um pouco avexado
Jogaram na mala do carro
O velho no fim encangado
Juninho sem nem uma pestana
E os dois passaram a semana
Vendo o sol nascer quadrado”.
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