quarta-feira, 25 de julho de 2012

O JUIZ "MANÉ" VICENTE


    
Conforme a Bíblia, 'Livro da Lei' dos cristãos, “aquele que vem da terra é da terra e fala da terra” (Evangelho de São João, 3,31).
Pois bem. Na aprazível cidade de Santa de Luzia do Paruá, onde o editor deste Blog viveu e conviveu por mais de cinco anos (2002-2007), em razão da labuta profissional, existia um programa sertanejo em uma emissora local de rádio comunitária, chamado “Forró do Véi”, transmitido das 5h30 às 7h00 da matina, sob o comando do repentista e apresentador Antonio Alves Ferreira, vulgo “Véi do Forró”, piauiense de Luzilândia, cidade ribeirinha do Parnaíba, porém, radicado há muitos anos naquela região do Alto Turiaçu.
Segundo se dizia, referido programa era o campeão de audiência no horário. Certo dia, sem ser exceção à regra dos ouvintes, fui acordado com a declamação de um poema matuto que me chamou a atenção, cuja autoria soube depois pertencer ao poeta e forrozeiro cearense Amazan.
Sem nenhum colorido de crítica ou juízo de desvalor a quem quer que seja, faço abaixo a singela transcrição dos versos, com pequenas adaptações, que talvez apenas retrate a realidade de nosso passado remoto (?), de origem feudal e estratificada em castas sociais de poucos privilegiados do sistema:

“Hoje a nossa polícia tá muito fiscalizada
É por isso que cabra ruim deixou de levar mãozada.
Mas antigamente cabra metido a valente
Quando um soldado pegava, ficasse com foi-não-foi
Era cada tapa-oi que o mocotó entrançava.

Hoje polícia não pode mais dá cacete em ninguém
Cinegrafista amador em toda janela tem.
Mas antigamente existia polícia mau
E tinha uma polícia por nome de bacurau
Que só andava de ronda caçando cabra malandro
Pra dá um samba de pau.

Às quatro da madrugada o quartel passou o rádio
A bacurau foi chamada pra ir prender um rapaz
Que andava tirando a paz e o sono do pessoal
Com o som do carro ligado, cruzando sinal fechado
E dando cavalo de pau.

A bacurau fez fiapo para o local indicado
Não demorou e lá encontrou o rapaz embriagado.
Tinha descido do carro tava comprando cigarro
Que quando espiou de lado viu um camburão parando
E o soldado saltando já com o braço levantado.

E disse: - Teje preso, seu safado. - Meninos vocês tão quente,
Eu sou documentado, vocês querem prender a gente.
Juninho não vai não. Eu vou é dizer a meu pai
O juiz Mané Vicente.

Ah! Você é filho do juiz?
Oh! Juninho, vá desculpando
Você até essa hora na cidade biritando
Fazendo coisa demais, dando preocupação a seus pais
E nós lhe procurando?

Aí abraçaram Juninho, botaram o rapaz no carro
Logo no banco da frente, saíram conversando com ele
E foram entregar ao pai dele, o juiz Mané Vicente.

Quando chegaram na casa bateram na porta avexado
Quando saiu o juiz sem saber o resultado
Disseram: - este aqui é seu filho, tava ali embriagado
Encontramos ele acolá e viemos aqui lhe entregar
Que aqui ele está guardado.

Muito obrigado, rapaziada, pela consideração
Oh! Que polícia educada. Gostei da iniciativa
Quando de mim precisar basta me procurar
Lá na liga esportiva.

Quer dizer que você é juiz de futebol?
Sim senhor. E o melhor do Estado.
Não fechou a boca, viu logo o resultado
Sacudiram os queixos do velho
Que ele ficou todo mijado
E deram um cascudo em Juninho
Que ele caiu de cu trancado.

Pegaram os dois pelos fundos da calça
Ali um pouco avexado
Jogaram na mala do carro
O velho no fim encangado
Juninho sem nem uma pestana
E os dois passaram a semana
Vendo o sol nascer quadrado”.

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