Polícia Civil indicia médica por morte do filho do presidente da Embratur
Ela adotou procedimentos 'possivelmente incorretos', disse delegado.
Nem o hospital, nem a médica se pronunciaram sobre o caso nesta sexta.
Concluído há duas semanas, o laudo cadavérico apontou que o adolescente morreu por asfixia e possuía "secreções gástricas no pulmão".
Delegado Anderson Espíndola
O hospital não comentou o indiciamento. "Com relação ao andamento
do inquérito sobre o caso Marcelo Dino, o Hospital Santa Lúcia
esclarece que só irá se pronunciar oficialmente após análise detalhada,
por parte do departamento jurídico, das razões que levaram o delegado
ao indiciamento da médica", informou por meio de nota.
A família do garoto divulgou uma nota em que diz que o indiciamento
traz "alívio", "mas também aprofundamento da dor e da indignação" (veja íntegra ao final da reportagem).
O delegado Anderson Espíndola afirmou que não houve demora no
atendimento, nem falta de medicamentos ou equipamento, mas, segundo
ele, a médica adotou dois procedimentos possivelmente equivocados, que
resultaram em imperícia médica. Nem o Hospital Santa Lúcia, nem a
médica se posicionaram sobre o indiciamento.
Em depoimento dado à polícia, a médica teria dito que se ausentou
por 40 minutos da UTI onde Marcelo estava sendo tratado de uma crise de
asma para atender ao chamado de um colega que estava realizando um
parto na sala ao lado. Após ser chamada pela auxiliar de enfermagem,
que relatou que o adolescente reclamava de falta de ar, ela teria
voltado imediatamente à unidade para atendê-lo.
Em nota divulgada no dia 26 de março, o hospital negou que a médica tenha se ausentado da UTI. De acordo com a nota, a plantonista pediátrica não atendia simultaneamente duas UTIs. “Na ocasião, a UTI Neonatal estava a cargo de outro especialista. Importante lembrar que ambas as Unidades de Terapia Intensiva e a Sala de Parto estão integradas, ocupando um espaço único no ambiente. Portanto, a médica não se ausentou do local”, dizia a nota.
Em nota divulgada no dia 26 de março, o hospital negou que a médica tenha se ausentado da UTI. De acordo com a nota, a plantonista pediátrica não atendia simultaneamente duas UTIs. “Na ocasião, a UTI Neonatal estava a cargo de outro especialista. Importante lembrar que ambas as Unidades de Terapia Intensiva e a Sala de Parto estão integradas, ocupando um espaço único no ambiente. Portanto, a médica não se ausentou do local”, dizia a nota.
"Ela usou a máscara de ventilação. Mas ele pode ter vomitado e ela
não ter percebido e, com a máscara tampando e ela apertando, pode ter
jogado aquele material para dentro dele", disse Espíndola.
O outro procedimento inadequado, segundo o delegado, teria sido a
demora para entubar o paciente. Segundo as investigações, o
procedimento teria ocorrido sete minutos após a chegada da médica e por
um anestesista convocado pela técnica.
"Uma enfermeira que não trabalha mais no hospital disse em
depoimento que ele estava todo roxo, inconsciente e sem respirar quando
ela chegou. Mesmo assim, a médica insistiu na máscara e ele só foi
entubado quando o anestesista chegou", explicou o delegado.
Se condenada, Izaura pode ficar entre um e três anos presa e ter a
pena aumentada em um terço por inobservância de regra técnica.
No dia 3 de abril, o presidente da Embratur, Flávio Dino, afirmou
por meio de assessoria que pediu à Agência Nacional de Vigilância
Sanitária para investigar o Hospital Santa Lúcia por suposto
descumprimento de regulamentação que exige que cada Unidade de
Tratamento Intensivo (UTI) tenha um médico em dedicação integral.
Veja a íntegra da nota da família de Marcelo Dino:
"A propósito do indiciamento da médica Izaura Emidio, do hospital
Santa Lúcia, por homicídio do nosso filho Marcelo Dino, temos a
declarar:
1 - A decisão da autoridade policial nos traz alívio, pela verdade
surgir, mas também aprofundamento da dor e da indignação, pela certeza
de que nosso filho deveria estar vivo.
2 - Com novos depoimentos no Inquérito, fica confirmado que a
médica Izaura não estava na UTI na hora da crise de Marcelo (estava
fazendo um parto) e, quando presente, agiu com imperícia. Também não
havia qualquer outro médico disponível para atendimento imediato.
3- Manteremos nossa luta pela verdade e pela plena
responsabilização do Hospital Santa Lúcia, que descumpriu a legislação
e causou a morte do nosso filho.
4 - Registramos ser deplorável a conduta de profissionais de saúde
e da própria direção do hospital, ao sustentarem versões falsas, agora
desmentidas, perante as autoridades e para a sociedade do Distrito
Federal.
5 - Continuaremos a nossa luta para que outros Marcelos não morram
impunemente, inclusive com a criação de mecanismos mais eficazes de
atuação do Poder Público sobre os hospitais, que devem curar, e não
matar.
6 - Este é o nosso modo de fazer Justiça ao Marcelo e de mantê-lo
bem vivo, contra a lógica mercantilista e desumana que o matou.
Flávio Dino e Deane Fonseca, pai e mãe de Marcelo Dino."
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