quarta-feira, 2 de maio de 2012

NÃO SERIA CASO DE NEPOTISMO?




Lilian Martins, mulher do governador do Piauí, Wilson Martins (PSB), toma posse como conselheira do TCE
Lilian Martins, mulher do governador do Piauí, Wilson Martins (PSB), toma posse como conselheira do TCE

A partir de hoje (quarta 2), a mulher do governador do Piauí, Wilson Martins (PSB), será fiscalizadora dos gastos públicos no Estado. Lilian Martins tomou posse como conselheira do TCE (Tribunal de Contas do Estado). A cerimônia administrativa que marcou o ingresso dela no cargo - vitalício - ocorreu na manhã desta quarta, em Teresina.
Lilian foi eleita na última sexta-feira (27) pela Assembleia Legislativa. Ela passa a ocupar o cargo vago deixado pelo conselheiro Guilherme Xavier de Oliveira Neto, que morreu em acidente aéreo no início de março.
Apesar da posse, o cargo de Lilian está ameaçado. O MP (Ministério Público Estadual) já recorreu à Justiça para contestar a escolha. A Federação Nacional de Entidades dos Servidores dos Tribunais de Contas do Brasil (Fenastc) também anunciou que acionará a Justiça contra o exercício da primeira-dama.
Os tribunais de contas são órgãos de assessoramento das assembleias legislativas dos Estados e têm como missão fiscalizar os gastos e atos do Poder Executivo em âmbito estadual e municipal.
Uma das atribuições do TCE é julgar a prestação de contas do governador. Em caso de reprovação, o gestor pode se tornar inelegível. Também é a partir de fiscalizações dos auditores que nascem ações do MP contra gestores. Ao todo, o TCE possui sete conselheiros.
O promotor da Vara da Fazenda Pública Estadual, Fernando Ferreira dos Santos, informou ao UOL que o MP já ingressou com dois recursos para impedir que Lilian siga no cargo - um deles antes da escolha.

Destituição

“Um recurso está no Tribunal de Justiça para reverter a decisão do presidente [que autorizou a eleição do novo membro do TCE pelo Legislativo, mesmo com as regras questionadas pelo MP], mas também já entramos com uma reclamação no STF, informando que a Assembleia escolheu a mulher do governador e que ela deveria tomar posse hoje. Pedimos a destituição da posse”, afirmou.
Segundo Santos, a Assembleia Legislativa não pode nomear conselheiros do TC. “Num primeiro argumento, não atacamos o nepotismo, mas, sim, o ato de nomeação, pois o processo foi errôneo. O ato de nomeação é do governador, e não da Assembleia, como foi feito.
Os ministros do TCU [Tribunal de Contas da União], mesmo escolhidos pelo Congresso, sempre tem o ato normativo do presidente da República, nunca do legislativo”, disse. O segundo ponto questionado pelo MP é a escolha da mulher do governador, o que seria proibido. “A súmula vinculante 13 do STF veda o nepotismo, e, mesmo no caso de nomeação pelo governador, o nome dela não poderia ser o escolhido.”

"Não prospera"

A Fenatsc também anunciou ingresso de ação na Justiça contra a posse. “A medida que se tem para combater essas distorções são as ações populares, que são julgadas pelo juiz singular [da primeira instância]. E a  Justiça local já deu provas de que é capaz de decidir contra o governador. Estamos confiantes de que essa indicação não prospera”, disse o presidente da entidade, Amauri Perusso, revelando surpresa ao saber que a Lilian Martin havia tomado posse. “Mas já? Quando querem, tudo é rapidinho.”
Perusso cita que caso similar já ocorreu no Paraná, e a Justiça proibiu o exercício do cargo. “Como governador, Roberto Requião indicou o irmão, Maurício Requião, como conselheiro, e ele foi cassado com uma decisão do ministro Ricardo Levandowski [do STF]. A súmula 13 trata da impossibilidade de nomeação de parentes, num combate ao nepotismo. E essa súmula já foi relida para alcançar os conselheiros dos TCs”, afirmou.
Para Perusso, a indicação da mulher é “desrespeito aos brasileiros.” “O princípio da Constituição de 1988 é a valorização da cidadania. E o governador está equivocado nessa indicação. A sociedade não aceita esse tipo de conduta. É o velho coronelismo que ainda impera na política", disse.

Habilitada

Durante sua fala na Assembleia Legislativa, Lilian Martins afirmou que, “como cidadã, servidora com 30 anos de carreira pública e política com orgulho”, teria direito a concorrer ao cargo, sem qualquer impedimento. Ela citou que se considera habilitada para o exercício da função, já que é advogada e ainda tem diploma de enfermeira.
Lilian também disse, durante sua posse nesta quarta-feira, que não vai julgar contas do Estado e declarará suspeição para os casos que envolvam o Executivo enquanto o seu marido estiver no poder.
Para assumir o cargo, Lilian renunciou ao cargo de secretária de Saúde do Piauí e à vaga que tinha como deputada estadual da Assembleia Legislativa. O governador do Estado, Wilson Martins,  não se pronunciou sobre a posse da mulher nem compareceu a nenhum dos atos ou cerimônias de escolha de Lilian.

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