(Graça Aranha)
Corre o distante ano de 1890. A República dá os seus primeiros passos. O nome do maranhense é José Pereira da Graça Aranha. Antes de enveredar pela carreira diplomática, o conterrâneo escritor Graça Aranha exerceu, na mocidade, o cargo de Juiz de Direito em Porto do Cachoeiro, atual cidade de Santa Leopoldina, no Estado do Espírito Santo.
Conta-nos o folclorista cearense Leonardo Mota (1891-1948), no seu célebre livro “No Tempo de
Lampião” , que quando chegou ali, em uma de suas
conferências sobre folclore e cultura popular que costumava fazer pelo interior
do Brasil, um de seus primeiros cuidados foi o de procurar, no arquivo do
cartório do tabelião Djalma Coutinho, alguns autos (processos) que guardassem
vestígios da passagem do citado romancista pela magistratura capixaba.
Datados daquele ano de
1890, encontrou o pesquisador nordestino muitos despachos e decisões do
prestigioso chefe do modernismo brasileiro. “Não perturbarei sacrilegamente o
seu sonho de arte, dando-lhe aqui a reler alguns dos seus prosaicos,
vulgaríssimos julgados, redigidos em linguagem corriqueira, de acordo com a
rigidez das praxes”, disse Leonardo.
Preferiu falar da
surpresa que a ele estava reservada, ao saber que o nome do eminente juiz se chamava Zé Pereira. Ou
seja: José Pereira da Graça Aranha era como assinava as suas sentenças o jovem magistrado de Porto do Cachoeiro.
Perguntado a um velhinho,
Oficial de Justiça há meio século, em Santa Leopoldina, se se lembrava do juiz
Graça Aranha, ele espetou um dedo na testa e, depois, com um sorriso vago,
falou ao interlocutor, no seu português peculiar:
"- Me lembro. Muito. O
Doutor Zezinho. Eu era rapazote e ele já homem formado. Nunca mais sube notiça dele, não sei se será vivo
ou morto. Já não sendo deste mundo, Deus lhe fale na alma! Parece que estou
vendo ele aqui na minha frente: magricela, nariz apapagaiado, falando que nem
nortista. Salvo engano, ele era do Maranhão.
O povo maldava dele com a Rosa,
uma cabôca engomadeira que era mesmo
uma mulher dessas de virar e revirar o juízo dum homem. Mas, eu acho que isso
era história sem fundamento, porque o Dr. Zezinho era moço sério. Gostava muito
de dançar, mas era o seu tanto ou quanto esquisito: amontava-se num burro e
passava dias inteiros nessas lombadas de serra, daqui pra Colatina, espiando
pro mundo, olhando pro tempo...”
Reportava-se o velho
serventuário forense aos estudos que Graça Aranha fazia dos cenários estupendos
que, mais tarde, tão magistralmente haveria de debulhar nas páginas fortes do
seu romance “Canaã”.
E lá se vão 82 anos dessa
conversa.
É a vida!
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